Os trilobitas são um grupo de artrópodes (subfilo Trilobitomorpha) que existiu durante a era Paleozóica, tornando-se completamente extinto durante a extinção em massa do Permiano-Triássico, há aproximadamente 250 milhões de anos. Esses artrópodes caracterizavam-se, entre outros aspectos, por possuírem corpo delimitado por três lobos longitudinais, responsáveis pelo nome do grupo (trilobito = trilobado, morfo = forma).
Características morfológicas
Os trilobitas tinham corpo dorsal oval, achatado ventralmente, dividido em três tagmas, o anterior denominado cefalão, o posterior ou pigídio e, entre os dois, o tórax.
O cefalão tinha um escudo sólido na cabeça (concha) que cobria os cinco ou seis segmentos da cabeça que estavam fundidos. Neste tagma foi localizado um par de olhos compostos bem desenvolvidos, dispostos dorsalmente. Ventralmente no cefalão estava a boca, que era protegida por um lábio.
O tórax era composto por um número variável de segmentos (entre 2 e 40), que se articulavam entre si e cada um possuía um par de apêndices birramados.
O último tagma, o pigídio, por sua vez era constituído por um número variável de segmentos fundidos e, como os segmentos do cefalão e do tórax, cada um era dotado de um par de apêndices; Após esses segmentos existia uma região pós-segmentar, chamada telson, na qual se localizava o ânus.
O corpo apresentava dois sulcos longitudinais que demarcavam visivelmente três lobos, um central denominado raque (ou glabela, no caso daquele localizado no cefalo) e dois laterais, chamados pleuras (= bochechas no cefalo).
Os trilobitas impregnaram apenas a cutícula dorsal do exoesqueleto com carbonato de cálcio, enquanto ventralmente eram protegidos por uma barra tendinosa lateral.
Como os segmentos do tronco não estavam fundidos, os trilobitas tinham a capacidade de enrolar (capacidade de conglobação) para proteger a sua parte ventral não calcificada dos predadores. Alguns até desenvolveram estruturas no cefalão e no pigídio, que se engatavam quando o animal se enrolava, permitindo uma vedação hermética.
Esta capacidade de conglobação também está presente em alguns isópodes atuais, razão pela qual durante algum tempo os trilobitas foram considerados ancestrais destes crustáceos. Apêndices
O primeiro par de apêndices dos trilobitas localizava-se em posição pré-oral, era multiarticulado e tinha função sensorial.
O resto dos apêndices do corpo eram todos semelhantes entre si. Eram constituídas por dois ramos que segundo alguns autores provinham de uma artéria basal chamada coxa. O ramo interno tinha função ambulatorial, era denominado telopodito ou endopodito, e era composto por seis articulações. Lateralmente a este havia um exopodito ou epipodito multiarticulado que deveria ter função respiratória. Alguns autores sugerem que este exopodito veio na verdade de uma precoxa e não da coxa.
Estrutura interna
O sistema digestivo dos trilobitas era relativamente simples, com uma boca ventral que se comunicava com um esôfago que corria ventralmente para frente, depois se curvava e corria dorsalmente para trás. O esôfago era contínuo com o estômago ou papo, que era contínuo com o intestino que terminava no ânus. O estômago tinha um ceco na parte anterior.
A musculatura dos trilobitas estava unida internamente ao exoesqueleto dos somitos e apêndices do corpo, permitindo torções longitudinais, mas não transversais, do corpo; Também permitiu a movimentação dos apêndices.
Antenas dos órgãos dos sentidos
Os investigadores estimam que todos os trilobitas tinham um par de antenas pré-orais, embora tenham sido preservadas intactas em apenas alguns registos fósseis. Essas antenas tinham função sensorial, e eram formadas por numerosas artérias em forma de anel, o que lhes conferia grande flexibilidade, permitindo que fossem retraídas quando o animal se enrolava. Olhos
A maioria dos trilobitas tinha olhos compostos, exceto algumas espécies de águas profundas que os perderam.
Esses olhos possuíam lentes de calcita e um número variável de omatídeos (entre 2 e 15.000) dependendo da espécie.
As lentes que compunham os olhos podiam ser unidas (holocroal) ou separadas por uma estrutura chamada esclerótida (esquizocroal). Este último aparentemente deu aos organismos uma visão de 360º.
Cogumelos sensoriais
O escudo cefálico dos trilobitas apresentava numerosas perfurações, que presumivelmente abrigavam cerdas sensoriais, como observado nos artrópodes atuais. Também foi sugerido que alguns trilobitas tinham uma espécie de “orelha composta”.
Reprodução e desenvolvimento
Esses organismos eram dióicos e apresentavam dimorfismo sexual, consistindo em pigídio mais curto nos machos do que nas fêmeas e estreitamento de alguns segmentos do tórax das fêmeas, mas não no dos machos.
O desenvolvimento foi indireto, com vários estágios e subestágios larvais. A primeira larva, chamada protaspis, emergiu do ovo com a maioria ou todos os somitos do cefalão fundidos a uma estrutura chamada protopigídio.
Os somitos corporais foram adicionados sucessivamente ao corpo a cada muda, entre o cefalão e o pigídio. À larva protaspis seguiu-se uma larva meraspis, em que o cefalão, o tronco e o pigídio já estavam diferenciados, e depois uma larva holaspis, que tinha a forma de um adulto em miniatura, e as sucessivas mudas permitiram-lhe atingir a fase juvenil, aumentando a sua tamanho e o número de segmentos corporais.
Habitat e comida
Nenhum trilobita jamais colonizou águas salobras ou doces, nem ambientes terrestres, habitando exclusivamente ambientes marinhos, onde estavam distribuídos em todos os oceanos e presentes em praticamente qualquer ambiente disponível, desde águas rasas até águas profundas.
A maioria das espécies eram bentônicas, porém também havia espécies pelágicas. Os organismos bentônicos eram maiores, podendo ultrapassar 70 cm, embora a maioria medisse entre 5 e 6 cm; seu corpo estava fortemente comprimido dorsoventralmente.
As formas pelágicas eram muito menores e desenvolveram uma série de projeções corporais ou espinhos para promover a flutuabilidade.
Os trilobitas não possuíam apêndices bucais especializados, sugerindo que a maioria deles eram micrófagos, obtendo seu alimento dos sedimentos do local onde viviam. Porém, as modificações do hipóstomo de algumas espécies sugerem que elas poderiam ter sido predadoras de diferentes tipos de vermes e vermes. Por seu lado, as espécies pelágicas devem ter sido maioritariamente filtradoras.
Era histórica
Os paleontólogos estimam que os primeiros trilobitas surgiram há cerca de 530 milhões de anos (período Cambriano), nas águas do que hoje é a Sibéria, irradiando-se posteriormente para todos os mares e oceanos da época.
Por outro lado, os últimos trilobitas resistiram até à extinção em massa do Permiano-Triássico, há cerca de 250 milhões de anos.
O período de maior esplendor para os trilobitas foi o Ordoviciano, quando atingiram sua maior diversidade e foram encontrados em praticamente qualquer habitat.
Os trilobitas conseguiram sobreviver aos episódios de extinção em massa do Ordoviciano – Siluriano (cerca de 439 milhões de anos atrás) e do Devoniano – Carbonífero (~367 milhões de anos atrás), no entanto, nenhuma espécie conseguiu sobreviver ao Permiano – Triássico, de modo que não há atual representante deste grupo de organizações.